Talvez
eu precise de um pouco do silêncio da tua presença, do barulho do
seu sono e do banho. A paz que me vinha ao ouvir seus barulhos em
outro cômodo. Te sentir ali comigo, mesmo que passasse o tempo todo
sem dizer nada.
Catar
as tuas bagunças, guardar o leite e colocar as meias dentro dos
sapatos. E aquele sorriso no canto dos lábios que me vinham quando
você me surpreendia de alguma forma.
Preciso
de espaço! Do espaço que insistia em roubar do teu armário, espaço
que eu usava pra infiltrar um pouco mais as minhas coisas no meio das suas, do espaço que eu tinha quando invadia teus banhos com toda a
minha má intenção. Ou então, eu só precise do espaço que
eu tinha na sua vida.
Quem
sabe eu precise recomeçar. Assim, recomeçar de onde parei. Como
naquela tarde, que caminhávamos pela rua e eu me equilibrava no meio
fio. Você me fez rir, eu perdi o equilíbrio e cai. Rimos mais ainda e
você me ajudou a recomeçar. Recomecei ouvindo o som da tua risada
como motivação.
Preciso
de espaço dentro do teu espaço, entende?
De
uma gargalhada que seja fruto de uma bobeira sua, de sentir minha
pele arrepiada por um toque seu ou de limpar o espelho embaçado por
causa dos teus banhos escaldantes.
Minha
vida se tornou algo banal, repleta apenas dos meus silêncios. O
casual entra, umas bebidas, cigarros, bares e um ou outro corpo. Mas
nada disso consegue chegar perto de completar meus silêncios.
É
uma necessidade quase angustiante! Faz falta onde não deveria fazer.
Você acabou se metendo onde não devia. Sua respiração está
fazendo falta no silêncio do meu quarto. A roupa que roubei de você
já não tem mais o teu cheiro, esse cheio da tua pele que tinha o
poder de acalmar até o meu mais profundo medo.
Eu
aprendi a viver sem a tua presença ativa, sem a tua voz, brigas,
conversas e tudo mais. Você não foi justo, se meteu na minha
solidão. Existe muito de você no meu vazio. Como seguir se meu
silêncio precisa de você?