Hoje eu sou
a Jiulliana de quase trinta anos, mas ate outro dia, eu ainda me via como a de
dezenove com medo, acuada, em pedaços e limitada. Provavelmente, quem me
conhece desde os dezenove, desde os vinte e cinco ou ate mesmo quem me conhece
desde quando eu nasci, não deve fazer ideia da forma como eu me sentia; não os culpo, já
que grande parte do trabalho do meu algoz, era me manter amedrontada e em
silêncio. Nesta manhã, eu acordei com o meu coração diferente, como se eu
tivesse encontrado alguém que eu andei procurado por muito tempo.
Dizem que
eu gosto de analogias, e realmente eu sou viciada em usa-las, em certos
momentos, chego a ser chata com a mania de querer que tudo fique bem explicado,
que o meu ponto de vista seja entendido com clareza. Hoje, parece que encontrei
uma praia deserta e só minha, com tudo aquilo que eu sempre quis e eu comecei a
me sentir de um jeito que eu achava que nunca aconteceria, e lá longe eu me vi,
me vi sorrindo pra mim. Sorrindo um sorriso de quem estava muito feliz em me
ver. E nesse momento eu me senti em casa. Eu me senti em mim.
Esse amor
me transbordou, essa sensação de que eu tudo o que foi feito contra mim,
toda a tortura emocional não conseguiu me quebrar completamente, não destruiu minha essência e
que no final das contas, eu sobrevivi. Gostaria de encontrar todas as minhas versões
anteriores, todas as Jiullianas que existiram desde mil novecentos e noventa e dar
colo para todas elas, pedir que nunca deixem de acreditar nessa voz tão
inteligente que sempre gritou dentro do nosso peito. Atualmente, consigo ver em
mim, tudo o que foi escondido, ver minha força, meu brilho, minha coragem.
Estou tão feliz em saber que eu sou corajosa. Vocês sabiam que eu não tenho
mais medo de tudo? Que o novo já não me deixa mais desesperada e que
principalmente, eu confio no meu potencial.
Eu fiz esse
blog quando eu tinha dezenove e decidi que precisa escrever e que não deveria
sentir vergonha por ser tão sensível assim, aqui, vocês podem encontrar muito
sobre quase todos os meus amores, sobre as minhas dores, sobre quase tudo que
me movia naquela época, mas com o tempo, eu fui parando, fui parando e ninguém
notou que eu estava me afastando de mim. Eu nunca parei de escrever, já que
isso é meu, mas eu parei de acreditar.
Meu sonho
era ter quarenta anos, pois eu tinha certeza, que quando chegasse nessa idade,
eu seria a mulher que eu sempre sonhei em ser, mas hoje, após ter passando pelos
vinte e poucos e pelos vinte e tanto de forma dolorida e honrosa, eu vejo no
espelho a mulher que eu nem cheguei a sonhar que seria. A dor por tudo que me
foi causado, todas as minhas cicatrizes internas me fazem ter noção da minha
força e do meu potencial. O mundo foi cruel comigo, me machucou de verdade, mas
eu venci. As investidas do meu inimigo foram todas bem sucedidas, mas não morri!
Me levantei do chão mais forte do que antes. Antes, acreditava que eu não era
forte, que eu era apenas resistente, não conseguia ver em mim forças para me
defender ou revidar. Mas hoje, quando me olho no espelho eu me vejo, eu me acolho,
eu me reconheço.
Sabe, foram
tantas vezes que eu quis desistir, tantas vezes que eu pensei em formas
eficientes de simplesmente sumir, mas eu nunca fazia nada, sempre achei que não
tinha coragem, mas no fundo, eu tinha muita força, muita garra, e apesar de
quem deveria me amar, ter passado a minha vida inteira se dedicando a me
quebrar, eu tive suporte, eu tive cuidado, eu tive amor e esse amor me ensinou o
caminho. Sou grata a todos que não desistiram de mim, a todos que me ajudaram a
levantar e que estão ou estiveram ao meu lado.
Hoje, a Jiulliana
de dezenove anos, me agrade e sorri para mim, afinal, a gente conseguiu. Vencemos!