Deita no meu corpo e me faz de colchão. Deita no meu corpo e
vira meu cobertor. Dorme em mim. Do meu lugar consigo ouvir teu coração bater. Ouço
o seu e sinto o meu. Batem em ritmos diferentes, mas na mesma sintonia.
Sinto o movimento da sua respiração, teus músculos relaxados
e a sua barba a se mostrar existente quando pinica o meu rosto. Se por um acaso
eu encontrasse um cobertor daqueles que abraçam a gente, sabe? E ele fosse o
melhor do mundo, mesmo assim eu iria preferir ser a tua cama pra você ser o meu
cobertor.
Eu iria preferir sentir tudo isso, mesmo com todo o medo,
com todas as travas e coisinhas, minha preferencia continuaria sendo sua. Em
ser sua.
O medo existe e ele quase sufoca, mas eu me lembro dos seus
olhos e do jeito que você parece precisar de mim durante o seu sono, o jeito
como seus olhos sorriem pra mim, como se chega querendo carinho e toda essa
vontade que existe em mim de te fazer feliz.
Conversamos em segredo e dentro de um esconderijo o que eu deveria
dizer em voz alta, num grito pra qualquer um ouvir, mas eu não disse e não
digo.
Um monte de orgulho querendo vencer uma batalha. Mas a
guerra já foi perdida. Como sempre, você passou com facilidade por todas as
minhas barreiras e muros. E enquanto eu tentava organizar a linha de defesa,
você se encontrava com o premio nas mãos e um sorriso no rosto. De forma
simples venceu meu jogo e eu nem me dei conta.
Eu travei todos os textos que não deveriam existir, eu calei
todas as palavras que não poderiam sair da minha boca. Chorei palavras. Me debulhei poemas e declarações.
Ando engolido algo que precisa sair. Precisa voar e aliviar
o meu peito. Tenho curiosidade de ver a sua ao ouvir. Mas eu não digo. Eu
travo, me escondo, engulo e calo.
Calo querendo dizer e sem coragem de falar.
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