Algumas tardes
tem o propósito de fazer o nosso cérebro pensar todas as coisas que evitamos ao
máximo assumir a existência, aqueles pensamentos que de tão reais, precisam
apenas ser ditos em voz alta para que se materializem na nossa frente. A tarde
esta tão bonita que eu realmente deveria ter ido à praia, meu coração me disse
para ir à praia. Esse céu tão azul, a ausência de nuvens e esse sol quentinho
fariam um bem enorme ao meu interior. Mas eu não fui, fui vencida pela preguiça
e estou aqui tendo que encarar coisas que procuro não olhar.
Não gosto
de me sentir assim, ter todos os meus erros detalhados pelo próprio cérebro e
saber exatamente onde errei e tenho errado. Nunca fui uma mulher ingênua, essa
faceta nunca combinou com a minha personalidade, mas a vida me colocou aqui com
as minhas próprias pernas e com uma bussola nas mãos. Não tenho ninguém e tenho
dois. Ninguém me abraça na hora de dormir, mas pertenço a dois. Cada um tem uma
metade mim nas mãos, e as minhas continuam vazias.
O André me
disse com todas as palavras que eu era maravilhosa, mas que eu tinha chegado na
hora errada na vida dele. Achei aceitável, já que tenho experiência com esse
tipo de atraso, e mesmo com o atraso grosseiro, ele insiste em ficar, em sumir
por muitos dias e sempre aparecer com um sorriso no rosto e com alguma coisa na
outra mão que me fizesse sorrir. Ele some, mas sempre volta e eu aceito, já que
acabo ficando os o melhor dos mundos. Ou pelo menos, o melhor mundo que posso
comprar com aquilo que estou disposta a aceitar. Vem, mas nunca dorme, tem
sempre uma pressa, um lugar para ir, sempre tem alguém esperando. Ele sabe que
eu estarei aqui.
Eu me
apaixonei sabendo que não deveria, sabia que deveria ter me atentado aos
detalhes, porém, ele tem um cheiro bom e alguma coisa naquele sorriso realmente
me prende e eu não tenho forças para ir para nenhum outro lugar. Me vi ficando
na mão dele, passo a passo, milimetro a milimetro. Mas ele sempre tinha uma
desculpa para não me apresentar para os amigos ou ir jantar comigo. Um clássico
amante de privacidade. Sem sombra de dúvidas, eu andaria com ele de mão dadas na
rua, na terra, no mar. Eu ria a qualquer lugar, já que segurando aquelas mãos,
eu tinha a certeza que poderia dominar o mundo. Quando me viu na mão, me
guardou no bolso e eu aceitei. Que tipo de gente aceita um bolso? Provavelmente
alguém que acredite caber nele.
O Felipe me
disse que estava amando me conhecer, que eu era uma das mulheres mais incríveis
que ele já tinha conhecido. Era artista, sensível e adorava me olhar. Certa
vez, ele contou todas as pintas do meu corpo, tenho cento e oitenta e quatro
sinais espalhados. Um desbravador que se orgulhava de cada descoberta. Os olhos
dele me olhavam com fome, me viam como alguém que realmente merecesse toda
aquela atenção. Suas mãos funcionavam como a chave mestra do meu corpo, não
existia nada que eu o negasse. Os olhos verdes prendiam minha atenção e abriam
a porta da minha alma.
Quando
estávamos sozinhos, eu me sentia a única mulher do universo, como uma deusa
adorada. Ninguém ousaria duvidar da minha divindade, e eu acreditei ser deusa,
ser dele. Eu quis morar naquele peito. Ousei a crer, que finalmente eu tinha
tido sorte, que esse fosse melhor que primeiro, mas não, era apenas diferente.
Eu era única, apenas quando estávamos juntos, e quando não, ele estava por ai
exaltando e descobrindo novas divindades. Fazendo dele quase um rei. O rei
verdadeiro que chora e fala sobre sentimentos abertamente. E esse também era
amante de privacidade. Sempre me questionava se os rótulos eram realmente
necessários. Bem, para mim eram.
Como meu espírito
é otimista, me convencia que estava na melhor situação que alguém solteiro
poderia estar, ter dois parceiros incríveis, únicos e ainda continuar podendo sair
com quem eu quisesse. Mas nessa tarde, nessa porra de tarde, eu me estou me
questionando se era isso mesmo que eu queria. Se eu realmente mereço não ser
aquela pessoa que muda tudo na vida de alguém. Poderia até fugir e não deixar
as coisas chegarem a esse ponto, mas preferi apenas aceitar o que me foi
oferecido. Um grande punhado de coisa nenhuma. Eu quero rótulos, eu quero ter
alguém que me assuma e faça o melhor dos mundos ao meu lado. Quero ser o
suficiente. Estou insegura e não tenho para quem ligar, se quisesse foder,
possivelmente teria. Mas ninguém quer saber das minhas inseguranças, dos meus
medos. Ninguém liga para o meu coração repetidamente partido. Eu mesma procuro
não pensar, afinal, eu vivo no melhor dos mundos. O melhor mundo de merda. Sou
a rainha iludida desse reino. Preciso apenas fingir que não faço questão de
nenhum dos dois. Fingir com tanta força, ao ponto de começar a acreditar
também.
Talvez, se
eu realmente fosse uma mulher maravilhosa e com todas essas coisas incríveis
que os dois insistem em me apontar, alguém ficasse aqui comigo. Me olho no
espelho e vejo alguém que mente, alguém que vai mover mundos e fundos para
agradar quando um deles ligar dizendo que esta a caminho da minha casa. Quando
por algum motivo, a saudade ou o tesão acentuar e um queira vir um pouco no
hotel de estrada que se tornou o meu coração. Apenas necessário por algumas
horas, por alguns momentos e logo após, seguem seus rumos. Rumos que nunca
levam a mim.
Estou
sozinha agora, solteira e feliz como todo mundo acredita, desapegada como todo mundo
acha. Sofrendo por homens que não tem a coragem de me beijar em público, já que
não mereço tanta moral assim. Tenho duas metades, mas elas não formam um
inteiro.
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