Assim que acordei, senti a claridade me machucando a retina,
o sol estava forte e quente, mas era a sua barba que me espetava as costas. Eu
estava presa em seus braços e sem a menor vontade de ir embora, sem o menor
anseio de ser livre. Com vontade ou sem, eu precisava ir, o meu tempo é calculado
e eu preciso me manter sã. Não sabia
como me desvencilhar daquele abraço. Quanto maior a minha tentativa, com mais
carinho eu era presa.
Eu fiz força, controlei minhas vontades e consegui sair dos
seus braços sem te acordar. Seu semblante era calmo, dormia em paz sem saber
que eu estava prestes a ir embora. Eu calculei o fim e estava prestes a
consuma-lo. Fui covarde e não te avisei. Teu olhar tem o dom de me fazer
esquecer do mundo, mas veja bem, isso já estava indo longe demais.
Coloquei-me de castigo por ter perdido o controle, por ter
esquecido as regras, por estar precisando tanto morar dentro desse abraço. E
foi a unica vez que eu entreguei a minha alma e permiti alguém a desbravasse. Entreguei-te
meu tesouro e tudo o que tinha de melhor. Mas não aguentei ficar tão exposta
desse jeito. Você me olhou diferente e fui essa diferença que me causou tanta
dor em sair dos seus braços.
Fui tomar banho
chorando em silencio, desejando com todas as forças que você acordasse e não me
deixasse ir. Arrumei minhas coisas, mas antes de sair e finalmente cometer o ato mais
covarde da minha vida, eu te olhei e desejei ficar um pouco. Peguei minhas coisas e fui
embora, entrei no carro chorando como se tivesse acabado de perder um pedado
meu. Percorri todo o caminho de volta pra casa com a sensação de que estava
esquecendo alguma coisa. Eu já não tinha mais tanta certeza do que eu estava
fazendo, não sabia se eu precisava me privar desse jeito pra estar segura. Mas num ato de coragem ou loucura, eu dei meia volta, passei no mercado e comprei um milhão de
mimos, planejei dois milhões de sorrisos e voltei. Cheguei a tempo de te acordar
e te fazer sorrir, mesmo estando aos pedaços. O meu mundo caiu em mim e eu nem consegui fugir, voltei por
causa desse sorriso e desse olhar.
Estou aqui em pânico e nem posso implorar pra ser cuidada e
tratada com cautela. Não posso dizer que estou morrendo de medo e que esta exposição
esta me fazendo surtar.
Eu apenas te olho e sorrio, mas meu coração grita:
Por favor, me precisa de volta!