segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Catarina


Ele gostava de dizer o nome dela. Catarina. Nome de mulher forte, mulher que ele queria pra si. Ela não gostava do nome dela, achava serio demais. Preferia “Cá”. Cá de Catarina, só que mais suave.
- Não fala meu nome inteiro, parece que esta brigando comigo. Lembra-me a mãe do papai, dizia meu nome inteiro sempre que podia.
Ele dizia Catariana em voz baixa e pausada, dizia por gostar da forma como a boca mexia. Ca-ta-ri-na. Ela era mulher complicada. Enganava facilmente pelo seu jeitinho ‘suave de ser’. Não tinha freios nem donos.
O pai escolheu Catarina e a mãe apenas apelidou de Cá. A mãe queria suavidade e o pai queria força... E ela tinha os dois.
João era calmo e a idolatrava. Ele estava em segundo plano na história, ele era quem gostava mais ou quem gostava sozinho.
Eles não eram um casal. Ela era a Catarina e ele era um carinha de nome pequeno e fácil de lembrar. Às vezes passava a noite na casa dele, ele era um cara legal pena estar apaixonado e viver repetindo o nome dela. Ele afirmava ser lindo, o melhor nome que já ouvirá. Ela queria ser Cá, mas ele insistia em Catarina. Ela nunca chegou a dormir. O sexo era legal, mas ele não acompanhava o ritmo dela. Ele dormia ela via televisão e tinha inspiração pra desenhos. Ele funcionava com um calmante, um detalhe discreto, mas importante na arte dela. Cá nunca disse isso pra ele e não tinha planos de dizer. A paixão de João era um peso que ela tentava levar. As coisas eram boas, mas ele estragou tudo. Ela sempre afirmou que sentimentos confundem estômagos, fazem mãos tremerem e ela é artista... Precisa de serenidade. Nas vezes que precisava dele ela ligava e o usava. - Entenda o usar da forma que preferir.
Não iria dormir enquanto não acabasse um esboço que começou no inicio da tarde. O esboço de uma paisagem que nunca ficaria pronta. Talvez não dormisse nunca mais. Pensa nele. Não liga. Sabe que a inspiração acabou e que ficar olhando para o papel não vai leva-la a lugar nenhum. Cada sabe seu lugar de fuga.
Escreveu o nome dela numa folha e sentiu-se apaixonado. Tão romântico e latino a espera de sua musa. Tomou cervejas e pensou em trabalho. Pensou no tempo e desejou-a. Catarina. Queria saber escrever, sabia que poderia fazer fortunas se reproduzisse alguém tão perfeito quanto ela. Não mascararia nenhum detalhe, faria uma cópia perfeita e com a mesma boca. Triste mesmo seria descrever os lábios dela... Só quem já teve a sorte de ser acariciado por eles entenderiam tal perfeição. João não escrevia, não desenhava e não falava. Apenas dizia “Catarina” Com toda a devoção do mundo.
Ela não queria ser “Catarina”, queria ser “Cá”. Simples e sem devoção.
Catarina.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Esquerda e direita


“Ambos estavam deitados de barriga pra baixo, ela virada pra esquerda e ele pra direita. Quando começaram a dormir estavam abraçados, com o passar das horas, os corpos seguem em suas posições mais confortáveis pra dormir, mas os pés sempre se tocam. Tocam-se, aquecem e acalmam.
Ela pensa que isso poderia acontecer mais vezes, que os dias poderiam ser simples assim.
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Ela precisa dele, precisa mesmo. Ela nega e nunca vai assumir. Precisar é muito complicado, acaba causando uma “obrigação” na pessoa precisada. Quando notou que precisava dele sentiu o desespero que dá quando você percebe que não vai mais conseguir sozinha. Ir ao mercado, comer, dormir, tomar banho, viver, sofrer e sorrir... Tudo isso seria possível, mas seria melhor se fosse com ele. Os fardos seriam mais leves se ele estivesse presente. Precisar assusta e ela não ia assumir.
Nem tudo deve ser dito, alguns sentimentos devem ser mantidos em confinamento por que eles são tão delicados que o mundo poderia apodrecê-los.
Se entregar é uma tarefa pra poucos, não é simplesmente apertar um botão e pronto. A entrega depende de tudo o que você já viveu, de tudo o que você já sentiu. A cabeça manda, ela é seu reino e só você sabe o que se passa dentro dela. Só você sabe o risco que corre ao se entregar.
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Ela sentia preguiça e mexia os dedos dos pés. Poderia se dizer feliz, assim que mostrasse que estava acordada, receberia o melhor olhar e o melhor bom dia do mundo.
Acordar não estava nos planos dela, ou melhor, não queria se mexer por que tudo era perfeito naquele momento. Um vento frio entrou pela janela entre aberta e ela pode sentir os pelos se arrepiando. Os pés mexiam na intenção de acorda-lo, repetindo os movimentos com toda a paciência do mundo.
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Ele sonhava que estava na praia em um dia chuvoso, o mar estava revolto, o vento era frio e congelava o seu corpo. Ele sorria o melhor de seus sorrisos, estava feliz por estar na praia... Até notar que estava sozinho e o dia não estava colaborando. Acordou com o seguinte pensamento:
“Eu só chego na hora e ainda chego achando que tô certo.” 
Acordou mesmo triste e sentiu preguiça de levantar. O cheiro dela estava pelo ar, o mesmo cheiro que sempre fica grudado na sua pela e nas suas roupas. Pensa nela, nos olhos dela e teme estar fazendo as coisas no tempo errado. Ele sabe que ela esta acordada e se pergunta o motivo dela não ter se virado pra ele.
Certas vezes ele queria poder enxergar o que se passa na cabeça dela. Ela deixa uma incerteza no ar e ele fica com a impressão que ela não quer estar ali. Ele se sente um idiota por esperar, mas ele não teve escolha. Um disse desses, ele acordou e quis beija-la, tomou café e quis conversar, o time estava uma merda e ele quis falar. Ai ele notou que precisa dela de alguma forma e quem precisa quer ser precisado de volta. Ele pensa muito no tempo, pensa no tempo deles juntos. Quando ela esta deitada nos braços dele, o tempo passa diferente, passa de forma suave e simples.
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Ele ficaria por perto mesmo quando ela não pedisse. Ela não iria a nenhum lugar que ele não estivesse. Mas essas palavras nunca seriam ditas, ficariam pressas na relatividade do obvio.
Quem sabe se ela virasse pra direita e ela pra esquerda... Quem sabe dessa forma as coisas seriam mais simples. Talvez se se olhassem mais, as palavras não poderiam se esconder dessa forma.
As vezes eles só precisam mudar um pouco. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Aos meus


No primeiro momento eu ri, ri numa atitude desesperada, ri querendo acreditar que fosse uma piada. Senti tanto medo e me calei. Calei minha boca e meus pensamentos... eu ouvia minha respiração e sentia meu coração bater. Por alguns instantes eu quis parar a realidade.
Com o tempo a respiração ficou ofegante e as coisas começaram a fazer sentido... um sentido um pouco confuso. Como se a realidade fosse absurda e a verdade fosse mentira.
Eu chorei por desespero de descrença. Consegui bloquear o pensamento e seguir por umas horas. Eu quase esqueci da realidade mas eu sentia a ausência de um pedacinho do meu sobrenome... um pedaço do meu DNA.
Palavras não poderiam consolar corações e as lembranças vinham como fechas.
Antes de dormir eu lembrei os olhos e do sorriso, lembrei quanto eu amava e ainda amo. E senti saudade, saudade dos detalhes e dos carinhos. Eram sempre tão puros que chegavam a dar paz. Algumas pessoas nascem com o dom de fazer o bem só por existir e quem convive com essas pessoas são abençoadas.
Chorei dentro do avião, chorei olhando o céu nublado. Eu via tudo branco e tentava aceitar. Eu não questionei os motivos de Deus. Eu sei que nada acontece sem a Sua permissão.
A coisa piora quando vemos, quando recebemos uma tapa no rosto dado pela realidade. “Aceite e continue vivendo.” A morte é triste pra quem continua vivendo, é dolorosa pra quem vai continuar vivendo e sentindo a ausência.
O que nos resta é agradecer a Deus pelos dez anos de lembranças boas que tivemos e agradecer por termos sido abençoados com um anjo lindo de olhos claros. O tempo é rei e só vai acalmar meu coração.
Eu sei que você esta descansando nos braços do Senhor, servindo a Ele com todos os talentos que foram concedidos a você.
Neste momento, eu uso o meu talento pra te trazer a memoria, pra lembrar teus abraços, sorrisos, afetos... Lembrar tua voz e como você era querida.
Não sei a forma de terminar esse texto, a dor da saudade criou em mim um silêncio que dificulta o nascer desse texto.
Essa é a verdadeira saudade. Sei que ela não sei ser eternada, mas enquanto eu viver nesse corpo que ainda não voltou ao pó, eu sentirei sua ausência e lembrarei dos teus olhos.
Obrigada.