quarta-feira, 8 de maio de 2013

O desenho dele.

Os desenhos não fluem com tanta facilidade, a ponta do lápis toca a folha branca e seus olhos encaram fixamente o papel quase virgem.
O corpo esta presente, mas a mente navega em outro plano, numa dimensão onde a vida é simples e a brisa é sempre fresca. Uma lágrima solitária rola pelo rosto enquanto a ponta do lápis machuca o papel. Quando ela finalmente percorre todo o rosto e cai na folha de papel, o pensamento até então contido invade a sala como uma ventania. A inspiração chega e arrepia a nuca, o coração batia acelerado e as mãos trabalhavam com afeto enquanto a mente tentava não lembrar. O rosto de João nascia naquele papel vindo de uma lembrança fresca, os lábios dela diziam "João" com a delicadeza de um peito que machuca por saudade.
Ela pensava e até conseguia ouvir a voz dele dizer "Ca-ta-ri-na", "Catarina", como se realmente ele estivesse olhando pra ela com aqueles olhos sempre afetuosos, como se aqueles lábios quase finos pudessem sorrir de volta, pudessem confortar o corpo e tranquilizar a alma.Ele veio consolar uma dor que ele mesmo causou, veio confortar um coração e segurar o orgulho que impedia as lagrimas de serem livres. 
João, João. Simples e bobo. 
A voz dele parecia invadir o corpo dela, esse corpo que era cheio de orgulhos e medos.
"Catarina. Linda. Minha, mesmo que só na vontade."
O desenho ficou pronto. João sério mas com olhos risonhos, exatamente como fazia quando estava prestes a dizer "Catarina" com a devoção.
As lagrimas nasciam em seus olhos num gesto de total desrespeito ao orgulho. Cah chorou sentada, pressionando a ponta do lápis contra o folha de papel até ela quebrar. Acendeu um cigarro e levantou, enquanto João a via partir mais uma vez. 

domingo, 5 de maio de 2013

Um pouco do teu amor.


Você diz que eu deveria agradecer a você por todo esse amor. Amor que você insiste em afirmar ser real. Confesso já ter acreditado no teu teatro, eu jurava que éramos pessoas de sorte pela pureza do nosso amor. O teu amor me trai e não me respeita, teu amor me ridiculariza na tua mesa de bar de confiança e eu apenas sinto que sou motivo de risos e compadecimentos. Eu te amo e essa realidade me causa vergonha. A dependência desse teu amor que me fere e castiga acaba sempre silenciando as minhas reclamações. Porque não importa onde você passe o dia, se o teu ponto de descanso for a minha cama eu vou tentar me convencer que você ainda tem algum tipo de consideração por mim.
Não poderia dizer que teu amor é totalmente ruim, meus olhos sempre otimistas, fazem questão de procurar e engrandecer suas qualidades, engrandecer o pouco de atenção e cuidado que recebo de volta. Olhos que valorizam qualidades e se fecham pras mentiras.
Teu amor já me feriu a carne, já me deixou com marcas do teu ciúme sem sentido. Teu amor ainda me faz sangrar por dentro. Confesso com culpa e o nojo de mim, que  monto uma cara de confiante e sempre duvido quando alguém vem me contar as aventurar do teu amor, sempre tão meu.
Você usa meu corpo como eu não estivesse ali, aliviasse sem se preocupar com as minhas vontades de mulher. Agarra-me enquanto dorme, me cheira, faz carinho e eu chego a me emocionar com a delicadeza.
O teu amor me diminuiu como mulher, cortou-me a independência e agora eu nem consigo ir embora. Na realidade, eu nem sei se quero... Já não me reconheço mais. Meu amor, teu suposto amor me destruiu, pegou minha auto estima e me devolveu como humilhação. Das vezes em que eu cheguei perto de desistir, teu amor desceu do altar e veio chorando jurando lealdade, lágrimas que sempre me amoleceram as pernas, calavam minha voz e criavam duvidas na minha certeza. Teu amor nunca mais me arrancou sorrisos. Teu amor não é mais meu.
Amor, eu preciso viver. Por favor, preciso que o teu amor me deixe em paz e deixe de amar.