quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Década.


Hoje eu sou a Jiulliana de quase trinta anos, mas ate outro dia, eu ainda me via como a de dezenove com medo, acuada, em pedaços e limitada. Provavelmente, quem me conhece desde os dezenove, desde os vinte e cinco ou ate mesmo quem me conhece desde quando eu nasci, não deve fazer ideia da forma como eu me sentia; não os culpo, já que grande parte do trabalho do meu algoz, era me manter amedrontada e em silêncio. Nesta manhã, eu acordei com o meu coração diferente, como se eu tivesse encontrado alguém que eu andei procurado por muito tempo.
Dizem que eu gosto de analogias, e realmente eu sou viciada em usa-las, em certos momentos, chego a ser chata com a mania de querer que tudo fique bem explicado, que o meu ponto de vista seja entendido com clareza. Hoje, parece que encontrei uma praia deserta e só minha, com tudo aquilo que eu sempre quis e eu comecei a me sentir de um jeito que eu achava que nunca aconteceria, e lá longe eu me vi, me vi sorrindo pra mim. Sorrindo um sorriso de quem estava muito feliz em me ver. E nesse momento eu me senti em casa. Eu me senti em mim.
Esse amor me transbordou, essa sensação de que eu tudo o que foi feito contra mim, toda a tortura emocional não conseguiu me quebrar completamente, não destruiu minha essência e que no final das contas, eu sobrevivi. Gostaria de encontrar todas as minhas versões anteriores, todas as Jiullianas que existiram desde mil novecentos e noventa e dar colo para todas elas, pedir que nunca deixem de acreditar nessa voz tão inteligente que sempre gritou dentro do nosso peito. Atualmente, consigo ver em mim, tudo o que foi escondido, ver minha força, meu brilho, minha coragem. Estou tão feliz em saber que eu sou corajosa. Vocês sabiam que eu não tenho mais medo de tudo? Que o novo já não me deixa mais desesperada e que principalmente, eu confio no meu potencial.
Eu fiz esse blog quando eu tinha dezenove e decidi que precisa escrever e que não deveria sentir vergonha por ser tão sensível assim, aqui, vocês podem encontrar muito sobre quase todos os meus amores, sobre as minhas dores, sobre quase tudo que me movia naquela época, mas com o tempo, eu fui parando, fui parando e ninguém notou que eu estava me afastando de mim. Eu nunca parei de escrever, já que isso é meu, mas eu parei de acreditar.
Meu sonho era ter quarenta anos, pois eu tinha certeza, que quando chegasse nessa idade, eu seria a mulher que eu sempre sonhei em ser, mas hoje, após ter passando pelos vinte e poucos e pelos vinte e tanto de forma dolorida e honrosa, eu vejo no espelho a mulher que eu nem cheguei a sonhar que seria. A dor por tudo que me foi causado, todas as minhas cicatrizes internas me fazem ter noção da minha força e do meu potencial. O mundo foi cruel comigo, me machucou de verdade, mas eu venci. As investidas do meu inimigo foram todas bem sucedidas, mas não morri! Me levantei do chão mais forte do que antes. Antes, acreditava que eu não era forte, que eu era apenas resistente, não conseguia ver em mim forças para me defender ou revidar. Mas hoje, quando me olho no espelho eu me vejo, eu me acolho, eu me reconheço.
Sabe, foram tantas vezes que eu quis desistir, tantas vezes que eu pensei em formas eficientes de simplesmente sumir, mas eu nunca fazia nada, sempre achei que não tinha coragem, mas no fundo, eu tinha muita força, muita garra, e apesar de quem deveria me amar, ter passado a minha vida inteira se dedicando a me quebrar, eu tive suporte, eu tive cuidado, eu tive amor e esse amor me ensinou o caminho. Sou grata a todos que não desistiram de mim, a todos que me ajudaram a levantar e que estão ou estiveram ao meu lado.
Hoje, a Jiulliana de dezenove anos, me agrade e sorri para mim, afinal, a gente conseguiu. Vencemos!

quinta-feira, 28 de junho de 2018

cento e oitenta e quatro sinais


um reflexo familiar
rosto com meus olhos
sorriso com meus dentes
poderia ser eu.

não me reconheço
meu roteiro não tem essa cena
não me escrevi chorando
com a fisionomia desfigurada.

como cheguei aqui
será que foi com minhas pernas
ou você me trouxe com as tuas?
meu corpo não cabe.

isso é pequeno demais
eu sou gigante.
Amor
Isso é pouco para mim.

não posso ser júri
em um concurso de migalhas
não escolherei qual farelo
irá me atender melhor.

não serei esse reflexo
que insiste em aparecer para mim
essa moça de olhos tristes
que sempre espera um pouco mais.

Há vagas.


Algumas tardes tem o propósito de fazer o nosso cérebro pensar todas as coisas que evitamos ao máximo assumir a existência, aqueles pensamentos que de tão reais, precisam apenas ser ditos em voz alta para que se materializem na nossa frente. A tarde esta tão bonita que eu realmente deveria ter ido à praia, meu coração me disse para ir à praia. Esse céu tão azul, a ausência de nuvens e esse sol quentinho fariam um bem enorme ao meu interior. Mas eu não fui, fui vencida pela preguiça e estou aqui tendo que encarar coisas que procuro não olhar.
Não gosto de me sentir assim, ter todos os meus erros detalhados pelo próprio cérebro e saber exatamente onde errei e tenho errado. Nunca fui uma mulher ingênua, essa faceta nunca combinou com a minha personalidade, mas a vida me colocou aqui com as minhas próprias pernas e com uma bussola nas mãos. Não tenho ninguém e tenho dois. Ninguém me abraça na hora de dormir, mas pertenço a dois. Cada um tem uma metade mim nas mãos, e as minhas continuam vazias.
O André me disse com todas as palavras que eu era maravilhosa, mas que eu tinha chegado na hora errada na vida dele. Achei aceitável, já que tenho experiência com esse tipo de atraso, e mesmo com o atraso grosseiro, ele insiste em ficar, em sumir por muitos dias e sempre aparecer com um sorriso no rosto e com alguma coisa na outra mão que me fizesse sorrir. Ele some, mas sempre volta e eu aceito, já que acabo ficando os o melhor dos mundos. Ou pelo menos, o melhor mundo que posso comprar com aquilo que estou disposta a aceitar. Vem, mas nunca dorme, tem sempre uma pressa, um lugar para ir, sempre tem alguém esperando. Ele sabe que eu estarei aqui.
Eu me apaixonei sabendo que não deveria, sabia que deveria ter me atentado aos detalhes, porém, ele tem um cheiro bom e alguma coisa naquele sorriso realmente me prende e eu não tenho forças para ir para nenhum outro lugar. Me vi ficando na mão dele, passo a passo, milimetro a milimetro. Mas ele sempre tinha uma desculpa para não me apresentar para os amigos ou ir jantar comigo. Um clássico amante de privacidade. Sem sombra de dúvidas, eu andaria com ele de mão dadas na rua, na terra, no mar. Eu ria a qualquer lugar, já que segurando aquelas mãos, eu tinha a certeza que poderia dominar o mundo. Quando me viu na mão, me guardou no bolso e eu aceitei. Que tipo de gente aceita um bolso? Provavelmente alguém que acredite caber nele.
O Felipe me disse que estava amando me conhecer, que eu era uma das mulheres mais incríveis que ele já tinha conhecido. Era artista, sensível e adorava me olhar. Certa vez, ele contou todas as pintas do meu corpo, tenho cento e oitenta e quatro sinais espalhados. Um desbravador que se orgulhava de cada descoberta. Os olhos dele me olhavam com fome, me viam como alguém que realmente merecesse toda aquela atenção. Suas mãos funcionavam como a chave mestra do meu corpo, não existia nada que eu o negasse. Os olhos verdes prendiam minha atenção e abriam a porta da minha alma.
Quando estávamos sozinhos, eu me sentia a única mulher do universo, como uma deusa adorada. Ninguém ousaria duvidar da minha divindade, e eu acreditei ser deusa, ser dele. Eu quis morar naquele peito. Ousei a crer, que finalmente eu tinha tido sorte, que esse fosse melhor que primeiro, mas não, era apenas diferente. Eu era única, apenas quando estávamos juntos, e quando não, ele estava por ai exaltando e descobrindo novas divindades. Fazendo dele quase um rei. O rei verdadeiro que chora e fala sobre sentimentos abertamente. E esse também era amante de privacidade. Sempre me questionava se os rótulos eram realmente necessários. Bem, para mim eram.
Como meu espírito é otimista, me convencia que estava na melhor situação que alguém solteiro poderia estar, ter dois parceiros incríveis, únicos e ainda continuar podendo sair com quem eu quisesse. Mas nessa tarde, nessa porra de tarde, eu me estou me questionando se era isso mesmo que eu queria. Se eu realmente mereço não ser aquela pessoa que muda tudo na vida de alguém. Poderia até fugir e não deixar as coisas chegarem a esse ponto, mas preferi apenas aceitar o que me foi oferecido. Um grande punhado de coisa nenhuma. Eu quero rótulos, eu quero ter alguém que me assuma e faça o melhor dos mundos ao meu lado. Quero ser o suficiente. Estou insegura e não tenho para quem ligar, se quisesse foder, possivelmente teria. Mas ninguém quer saber das minhas inseguranças, dos meus medos. Ninguém liga para o meu coração repetidamente partido. Eu mesma procuro não pensar, afinal, eu vivo no melhor dos mundos. O melhor mundo de merda. Sou a rainha iludida desse reino. Preciso apenas fingir que não faço questão de nenhum dos dois. Fingir com tanta força, ao ponto de começar a acreditar também.
Talvez, se eu realmente fosse uma mulher maravilhosa e com todas essas coisas incríveis que os dois insistem em me apontar, alguém ficasse aqui comigo. Me olho no espelho e vejo alguém que mente, alguém que vai mover mundos e fundos para agradar quando um deles ligar dizendo que esta a caminho da minha casa. Quando por algum motivo, a saudade ou o tesão acentuar e um queira vir um pouco no hotel de estrada que se tornou o meu coração. Apenas necessário por algumas horas, por alguns momentos e logo após, seguem seus rumos. Rumos que nunca levam a mim.
Estou sozinha agora, solteira e feliz como todo mundo acredita, desapegada como todo mundo acha. Sofrendo por homens que não tem a coragem de me beijar em público, já que não mereço tanta moral assim. Tenho duas metades, mas elas não formam um inteiro.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Avesso

   Sonhei que alguém entrava no meu apartamento e despertei as três horas da manhã. Quem mais eu poderia achar que seria? Levantei contente e fui te encontrar, eu fui sorrindo, durante esses dez segundos tive alegria, acreditei que você realmente estaria ali e esqueci que você não quis mais fazer parte da minha vida. Eu cheguei na porta e não tinha ninguém. Eu me vi tão descartável ali em pé, sozinha sentindo o maior vazio do mundo, e não importava as formas que tentasse me confortar, nada adiantava. Você não estava ali e era só de você que eu precisava... Daquele sorriso e do beijo na testa. Mas não tinha mais nada, eu estava sozinha na sala olhando pra marca na parede daquele quadro horroroso que você decidiu colocar na minha sala. Mais uma vez ficou claro que você não vinha e eu nem sabia por onde você andava. Eu chorava como se alguém tivesse morrido, gesticulava como se implorasse pra minha cabeça parar de me torturar com tantas lembranças e possibilidades.
   
Deitei no sofá e coloquei a mão sobre o meu peito como uma forma de evitar que ele saltasse dali, meu coração batia forte e a cada batida eu desejava você. Desejava do jeito mais clichê possível. Apenas uma real presença.  Já era mais que claro que você não me ama mais, a sua vida seguiu, você esta em outras, mas eu ainda estou aqui esperando você voltar. Tentei buscar algo com teu cheiro, que fosse palpável e eu pudesse acreditar que aquilo realmente existiu, mas o que não levou, eu destruí. Você continua existindo dentro do meu corpo com tantas lembranças, parece exagero, mas você esta aqui o tempo todo. Como se fosse um fantasma, eu sinto sua presença, e isso faz com que eu fantasie uma realidade que não existe mais. Sou assombrada por alguém que nem sente falta da minha voz.    Ainda tenho vontade de te contar meu dia pra alguém que não me atendeu a ultima vez que eu liguei.
   Minhas humilhações não tem plateia, são coisas silenciosas, desesperos de alguém que está com saudade.  Não importa o que eu faça ou com quem eu tente dormir, é você que esta fazendo falta aqui. Estou faltando um pedaço, aquele que você arrancou de mim quando separava nós dois. Pelo menos me devolve ele. Passei anos ao seu lado, teu espaço foi conquistado. Como você conseguiu abrir mão de nós dessa forma? As coisas não fazem sentido. Sei que não tem como justificar um amor que acabou, mas preciso. Eu preciso seguir a minha vida e parar de acordar de madrugada com um coração feliz achando que você esta chegando. E principalmente parar de pensar em você e eu como se ainda fossemos um casal.
    Eu prometi que não ia mais te procurar, e certamente não vou mais. Não tenho mais espaço pra me magoar com seu descaso. Eu só queria que você sumisse da minha cabeça. E mesmo depois de parar de chorar,  eu ainda estava em pedaços, E eu não me quis daquele jeito. Hoje eu vou sair com a minha cara de quem já supero e como decidi não falar mais sobre você com ninguém, as pessoas conseguem ver uma força em mim. Vou beber e talvez eu consiga te esquecer por umas horas, em outras bocas com certeza, mas meu corpo ainda recusa mãos que não são as suas. Eu insisto, não posso parar de tentar abafar o escândalo que a sua ausência faz dentro de mim. Eu vou aproveitar a noite, pois quando eu voltar você vai continuar não estando aqui.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Honestamente.

   Eu existia antes do toque dele, eu já era uma mulher incrível, foda, quente. Gostosa. Não um corpo, entenda o que quero dizer, gostosa que faz gostoso, que faz com vontade. Sem frescura ou problema. Eu tinha um corpo e sabia usar. Quando se sabe transar, as regras do jogo não são difíceis. Vontade é algo simples, quando ela surge, você faz o que precisa ser feito até ela sumir. Tinha as minhas regras, meu código de honra sabia exatamente até onde podia ir e me mantar a salvo. Acreditei que seria mais um, por que é isso que a gente faz, não dá pra sair por ai procurando o amor em cada virilha que a gente lambe. A região pélvica me instigava a procurar coisas, mas o amor nunca foi uma delas.
   Ele surgiu na minha vida, chegou como todos os outros. Gostei, quis, peguei. Mas eu não queria que ele saísse de dentro de mim. Como isso funciona? Simplesmente queria que ele passasse o tempo todo dentro do jeito mais erótico que você pudesse imaginar. Detalhes não são necessários, já que o sexo foi realmente maravilhoso, afinal de contas, eu sei meter. Mas aquele homem respeitou minhas regras, jogou meu jogo, me deu uma canseira no meu território. Eu amei. Em determinado momento me vi sendo a puta dele, não mais a minha puta, era eu sendo dominada e gostando daquilo. Eu pensava: Vou precisar colocar esse pau numa moldura. Será necessário!
   O sentimento não chegava nem perto de ser amor, paixão ou algo assim, era sexo. Sexo na essência da coisa. Ele não me fez mulher, não foi o que mais me fez gozar na vida, ele completava o meu sexo. Fazia tudo que era necessário, cínico e ordinário. Era um puto. Nossa, melhor classe de pessoas. Juntou o puto e a puta, um bom time. Sempre quando a exaustão não nos permitia continuar, ou até mesmo os compromissos da vida adulta, eu ficava me sentindo incompleta. Um vazio diferente da vontade de transar, quase como se o emocional da minha vagina estivesse sentindo saudade daquele pau.
   
Em nenhum momento eu achei que pudesse me apaixonar pelo dono do pênis supracitado, eu sabia que eu ia gozar, que ele me faria sentir coisas durante o sexo que eu não esperava, que eu ia chupar aquela piroca como se fosse (realmente era) a coisa mais gostosa desse universo e que isso seria divinamente reciproco, mas amor não ia rolar. Ele não era um cara ruim, porem algo romântico não aconteceria, não era a natureza do nosso relacionamento. Não era pra isso que a gente estava ali, nunca foi.

 Talvez essa relação se tornasse um problema caso eu resolvesse namorar com alguém, mas até onde ela existiu nunca me causou nenhum tipo de desconforto. Mas o homem saiu do país, conseguiu um emprego bom e foi. Umas vinte e seis despedidas aconteceram, e eu nem levei ele no aeroporto. Meu corpo sente saudade, o vazio acontece, mas estou sempre mantendo ele preenchido. Nunca imaginei ir pra outro país pra transar, mas meu voo é daqui à uma hora.  

terça-feira, 12 de julho de 2016

Lições de amor.

Quando eu consegui entender o que era amor, a primeira lição que tive foi que ele machuca. Nossa como feria algo tão bonito que fazia estragos indescritíveis em um coração tão pequeno.
 Lição numero um: O amor pode te machucar muito.
A segunda lição foi um pouco mais difícil de aprender, pois eu precisava de maturidade pra aceitar aquilo, mão importava o quanto eu tentasse, me mudasse ou insistisse você não ganha amor se humilhando por ele. Não importa o quanto você precise, tem vezes que ele simplesmente não vem.
Lição numero dois: Não adianta se humilhar pra receber amor.
Foram lições muito importantes pra mim, pois dessa
forma eu aprendi a tentar me preservar. Na infância é terrível tentar entender o motivo de não sentir o amor que você acha que merece. Merece por ser criança, ser filho, por ser pequeno. Ele às vezes não vem ou vem de uma forma que não supre o que você necessita. Não existe muito oque fazer, você vai precisar crescer assim mesmo, vai virar adulto e parar de falar sobre essas coisas, é constrangedor assumir que essas carências infantis ainda são tão vivas dentro de nós.
Algumas verdades não precisam ser ditas, palavras que ficam muito tempo dentro do peito se tornam altamente cortantes, ferem o espaço onde habitam e certamente fariam sangram o corpo de quem viesse a ser o receptor da mensagem. Palavras cortam fundo, um corte limpo e preciso, sangra tanto que o corte some em meio a dor a gente nem sabe direito qual lugar precisa da sutura.
Você é adulto agora, ninguém se importa se você se sente abandonado ou desamparado. Você se sente amado? Ninguém liga! A gente pode tomar umas cervejas em momentos de tristeza, rir com amigos, usar alguma coisas pra fazer passar tempo e o desconforto. Mas não esquece, né? Quando somos crianças, as tentativas de chamar atenção não são vistas, quando falamos ninguém escuta. A vida adulta chega e não podemos mais falar sobre isso.
Viramos adultos sem notar e as técnicas adolescentes e idiotas de chamar atenção não são mais justificáveis.  Agora você cresceu, tem uma formação, um emprego e esta pensando em construir família. Parabéns, veja o adulto legal que você se tornou!

Mas fica tranquilo, não vou contar pra ninguém que nas vezes que você precisa de colo, sente a dor piorar por sentir o abandono e a impotência por não poder fazer nada para que isso mude. Segredo nosso. Todo mundo se sente um pouco assim.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Você de novo.

 Poderia ser qualquer um. A campainha toca de um jeito longo e irritante, por meio segundo eu quase reconheci. Os questionamentos vieram de imediato, quem seria?  O porteiro não avisou, não deve ser ninguém, provavelmente a Teresa querendo conversar. Abri a porta sem nem conferir quem era e dei de cara com você. Não um “você qualquer”, você que era meu e que eu ainda sou sua. Você na minha porta com um olhar pacifico e eu pé, me segurando na porta porque o chão provavelmente iria se abrir sob os meus pés.
 Eu não consegui dizer nada, já que eu passei meses me treinando pra conseguir não chorar todo dia, a não te ligar pedindo pra voltar toda semana. Eu precisei me ensinar a recolher todos os meus caquinhos pelo chão e começar de novo, então eu não sei o que dizer. Claro que eu gostaria de abraçar você e sentir o cheiro e a temperatura da sua pele, beijar teu rosto inteiro, sentir a textura da barba e do cabelo. Conferir se as cicatrizes dos cravos já sumiram. Questionar se você anda se alimentando direito. Explicar detalhadamente como te arrancar da minha vida tem sido uma tarefa difícil pra caramba. Pois cada vez que eu tento, você se agarra em mim e eu preciso machucar minhas lembranças pra me livrar delas. E quando finalmente consigo arranca-las, percebo que não quero tira-las de mim. Então eu me seguro mais firme na porta e pergunto: O que você esta fazendo aqui? Vim te ver. Eu precisava.
 Precisava me ver. Logo agora. Logo hoje. Como o Fernando te deixou subir? Não pode querer me ver, não pode surgir assim de novo. Não pode chegar sem avisar. Meu cabelo está horrível, tenho certeza. Esse é o pior pijama! Eu não sei o que fazer, não sei o que responder e estou morrendo de medo. Medo da sua falta de certeza, medo de saber o motivo que te trouxe aqui. Medo de deixar você me tocar e sentir todo o meu corpo desmoronar, medo de deixar você entrar e o teu cheiro nunca mais sair do meu sofá, ou então, que o teu fantasma acabe preso nas minhas paredes. To com medo de abrir a boca e chorar até amanha, de confessar minha humilhante saudade e assumir em voz alta que estou perdida pra caralho desde quando você me deixou. Um medo absurdo de te ouvir. Medo de ouvir o som da sua voz ecoando pelo meu apartamento. Sua voz de verdade e não aquela que eu tento expulsar da minha cabeça.

Sei que vou acabar estragando tudo. Não vou conseguir ser forte e eu não quero te implorar pra ficar, pra voltar ou pra pelo menos ficar esta noite, e você fica ai me olhando com essa cara de quem quer entrar. Veja bem, eu já te deixei entrar uma vez e olhe onde estamos agora...