domingo, 24 de maio de 2015

Meu plano.

Após criar um plano complexo e racional eu decidi ser sozinha. Parece coisa de filme, mas foi a minha realidade por alguns anos. Eu não precisava ficar necessariamente sozinha, mas eu não poderia permitir me apaixonar. Eu poderia ficar saindo com o mesmo cara por meses, desde que ele não me despertasse nenhum sentimento além de atração física.
       Eu quase me apaixonei algumas vezes durante o tempo de vigência de plano e fugi todas às vezes. Simplesmente sumi dos pobres rapazes que despertavam alguma reação do meu coração. Algumas vezes eu sumia pra sempre outras só pelo tempo necessário de eliminar aquele projeto que sentimento que ousou querer nascer. Medidas drásticas já foram tomadas, coisas que me envergonha também, mas o plano deveria funcionar a qualquer custo. Se esconder é um plano complicado, você tem 50% de chance de tudo ir bem e 50% de chance da coisa ir mal. Quando tudo vai bem, ninguém vê você e isso é incrível, quando tudo não vai bem, ninguém te vê e isso machuca muito.
      Sou durona, sabe? Procurei isso a vida toda, eu sempre precisei ter o controle da coisa ou pelo menos achar que tinha. Meu coração sempre foi delicado, sabia que não poderia me ariscar de forma inconsequente. A paixão me deixava em frangalhos e eu realmente não gostava da forma como eu me via pequenina e dependente do cheiro de alguém. Aprendi a me bastar. Dormia com 35 travesseiros na cama, dormia fazendo carinho em mim, sentia raiva dos casais apaixonados na rua. Era inadmissível aceitar sorrindo aquela gente esfregando a felicidade na cara da minha amargura. E olha, eu odiava o dia dos namorados com todas as minhas forças.  Isso não me privava das dores antigas, elas ainda me seguravam quando eu me permitia ir um pouco mais além. Eu transava, mas não dormia junto. Meu sexo era apenas meu, eu usava os homens. Sem apego e sem mimimi. Fazia coisas sem sentido e ia embora, apenas ia. Não importava o quanto o cara pedisse pra eu ficar.
       Um dia você se permite a sair do esconderijo ou alguém te tira de lá. Conheci alguém e tudo ia normalmente, eu seguia o meu roteiro e estava segura. Até que um dia acordei apaixonada. O desespero era maior que tudo, meu corpo tremia de medo ao imaginar que toda aquela dor ia voltar, mas eu não consegui fugir. Eu não consegui. Então eu fiquei. “Eu não sei se ela sabe o que fez quando fez meu peito cantar outra vez.” Esse trecho ecoava na minha mente todo o tempo, mas eu abandonei o plano e me expus. Meus passos ainda eram cautelosos e eu sempre precisava ter uma rota de fuga em mente. Tenho acordado apaixonada todos os dias. Acordei com aquela preguiça dominical e senti meu corpo sendo abraçado pelo dele. Mesmo dormindo ele me abraça forte e eu sei que esse é o meu lugar. É o melhor esconderijo que eu poderia encontrar. Eu não sei se era o plano, ele me faz a mulher mais feliz.