terça-feira, 21 de julho de 2015

Você de novo.

 Poderia ser qualquer um. A campainha toca de um jeito longo e irritante, por meio segundo eu quase reconheci. Os questionamentos vieram de imediato, quem seria?  O porteiro não avisou, não deve ser ninguém, provavelmente a Teresa querendo conversar. Abri a porta sem nem conferir quem era e dei de cara com você. Não um “você qualquer”, você que era meu e que eu ainda sou sua. Você na minha porta com um olhar pacifico e eu pé, me segurando na porta porque o chão provavelmente iria se abrir sob os meus pés.
 Eu não consegui dizer nada, já que eu passei meses me treinando pra conseguir não chorar todo dia, a não te ligar pedindo pra voltar toda semana. Eu precisei me ensinar a recolher todos os meus caquinhos pelo chão e começar de novo, então eu não sei o que dizer. Claro que eu gostaria de abraçar você e sentir o cheiro e a temperatura da sua pele, beijar teu rosto inteiro, sentir a textura da barba e do cabelo. Conferir se as cicatrizes dos cravos já sumiram. Questionar se você anda se alimentando direito. Explicar detalhadamente como te arrancar da minha vida tem sido uma tarefa difícil pra caramba. Pois cada vez que eu tento, você se agarra em mim e eu preciso machucar minhas lembranças pra me livrar delas. E quando finalmente consigo arranca-las, percebo que não quero tira-las de mim. Então eu me seguro mais firme na porta e pergunto: O que você esta fazendo aqui? Vim te ver. Eu precisava.
 Precisava me ver. Logo agora. Logo hoje. Como o Fernando te deixou subir? Não pode querer me ver, não pode surgir assim de novo. Não pode chegar sem avisar. Meu cabelo está horrível, tenho certeza. Esse é o pior pijama! Eu não sei o que fazer, não sei o que responder e estou morrendo de medo. Medo da sua falta de certeza, medo de saber o motivo que te trouxe aqui. Medo de deixar você me tocar e sentir todo o meu corpo desmoronar, medo de deixar você entrar e o teu cheiro nunca mais sair do meu sofá, ou então, que o teu fantasma acabe preso nas minhas paredes. To com medo de abrir a boca e chorar até amanha, de confessar minha humilhante saudade e assumir em voz alta que estou perdida pra caralho desde quando você me deixou. Um medo absurdo de te ouvir. Medo de ouvir o som da sua voz ecoando pelo meu apartamento. Sua voz de verdade e não aquela que eu tento expulsar da minha cabeça.

Sei que vou acabar estragando tudo. Não vou conseguir ser forte e eu não quero te implorar pra ficar, pra voltar ou pra pelo menos ficar esta noite, e você fica ai me olhando com essa cara de quem quer entrar. Veja bem, eu já te deixei entrar uma vez e olhe onde estamos agora...

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