quinta-feira, 28 de junho de 2018

Há vagas.


Algumas tardes tem o propósito de fazer o nosso cérebro pensar todas as coisas que evitamos ao máximo assumir a existência, aqueles pensamentos que de tão reais, precisam apenas ser ditos em voz alta para que se materializem na nossa frente. A tarde esta tão bonita que eu realmente deveria ter ido à praia, meu coração me disse para ir à praia. Esse céu tão azul, a ausência de nuvens e esse sol quentinho fariam um bem enorme ao meu interior. Mas eu não fui, fui vencida pela preguiça e estou aqui tendo que encarar coisas que procuro não olhar.
Não gosto de me sentir assim, ter todos os meus erros detalhados pelo próprio cérebro e saber exatamente onde errei e tenho errado. Nunca fui uma mulher ingênua, essa faceta nunca combinou com a minha personalidade, mas a vida me colocou aqui com as minhas próprias pernas e com uma bussola nas mãos. Não tenho ninguém e tenho dois. Ninguém me abraça na hora de dormir, mas pertenço a dois. Cada um tem uma metade mim nas mãos, e as minhas continuam vazias.
O André me disse com todas as palavras que eu era maravilhosa, mas que eu tinha chegado na hora errada na vida dele. Achei aceitável, já que tenho experiência com esse tipo de atraso, e mesmo com o atraso grosseiro, ele insiste em ficar, em sumir por muitos dias e sempre aparecer com um sorriso no rosto e com alguma coisa na outra mão que me fizesse sorrir. Ele some, mas sempre volta e eu aceito, já que acabo ficando os o melhor dos mundos. Ou pelo menos, o melhor mundo que posso comprar com aquilo que estou disposta a aceitar. Vem, mas nunca dorme, tem sempre uma pressa, um lugar para ir, sempre tem alguém esperando. Ele sabe que eu estarei aqui.
Eu me apaixonei sabendo que não deveria, sabia que deveria ter me atentado aos detalhes, porém, ele tem um cheiro bom e alguma coisa naquele sorriso realmente me prende e eu não tenho forças para ir para nenhum outro lugar. Me vi ficando na mão dele, passo a passo, milimetro a milimetro. Mas ele sempre tinha uma desculpa para não me apresentar para os amigos ou ir jantar comigo. Um clássico amante de privacidade. Sem sombra de dúvidas, eu andaria com ele de mão dadas na rua, na terra, no mar. Eu ria a qualquer lugar, já que segurando aquelas mãos, eu tinha a certeza que poderia dominar o mundo. Quando me viu na mão, me guardou no bolso e eu aceitei. Que tipo de gente aceita um bolso? Provavelmente alguém que acredite caber nele.
O Felipe me disse que estava amando me conhecer, que eu era uma das mulheres mais incríveis que ele já tinha conhecido. Era artista, sensível e adorava me olhar. Certa vez, ele contou todas as pintas do meu corpo, tenho cento e oitenta e quatro sinais espalhados. Um desbravador que se orgulhava de cada descoberta. Os olhos dele me olhavam com fome, me viam como alguém que realmente merecesse toda aquela atenção. Suas mãos funcionavam como a chave mestra do meu corpo, não existia nada que eu o negasse. Os olhos verdes prendiam minha atenção e abriam a porta da minha alma.
Quando estávamos sozinhos, eu me sentia a única mulher do universo, como uma deusa adorada. Ninguém ousaria duvidar da minha divindade, e eu acreditei ser deusa, ser dele. Eu quis morar naquele peito. Ousei a crer, que finalmente eu tinha tido sorte, que esse fosse melhor que primeiro, mas não, era apenas diferente. Eu era única, apenas quando estávamos juntos, e quando não, ele estava por ai exaltando e descobrindo novas divindades. Fazendo dele quase um rei. O rei verdadeiro que chora e fala sobre sentimentos abertamente. E esse também era amante de privacidade. Sempre me questionava se os rótulos eram realmente necessários. Bem, para mim eram.
Como meu espírito é otimista, me convencia que estava na melhor situação que alguém solteiro poderia estar, ter dois parceiros incríveis, únicos e ainda continuar podendo sair com quem eu quisesse. Mas nessa tarde, nessa porra de tarde, eu me estou me questionando se era isso mesmo que eu queria. Se eu realmente mereço não ser aquela pessoa que muda tudo na vida de alguém. Poderia até fugir e não deixar as coisas chegarem a esse ponto, mas preferi apenas aceitar o que me foi oferecido. Um grande punhado de coisa nenhuma. Eu quero rótulos, eu quero ter alguém que me assuma e faça o melhor dos mundos ao meu lado. Quero ser o suficiente. Estou insegura e não tenho para quem ligar, se quisesse foder, possivelmente teria. Mas ninguém quer saber das minhas inseguranças, dos meus medos. Ninguém liga para o meu coração repetidamente partido. Eu mesma procuro não pensar, afinal, eu vivo no melhor dos mundos. O melhor mundo de merda. Sou a rainha iludida desse reino. Preciso apenas fingir que não faço questão de nenhum dos dois. Fingir com tanta força, ao ponto de começar a acreditar também.
Talvez, se eu realmente fosse uma mulher maravilhosa e com todas essas coisas incríveis que os dois insistem em me apontar, alguém ficasse aqui comigo. Me olho no espelho e vejo alguém que mente, alguém que vai mover mundos e fundos para agradar quando um deles ligar dizendo que esta a caminho da minha casa. Quando por algum motivo, a saudade ou o tesão acentuar e um queira vir um pouco no hotel de estrada que se tornou o meu coração. Apenas necessário por algumas horas, por alguns momentos e logo após, seguem seus rumos. Rumos que nunca levam a mim.
Estou sozinha agora, solteira e feliz como todo mundo acredita, desapegada como todo mundo acha. Sofrendo por homens que não tem a coragem de me beijar em público, já que não mereço tanta moral assim. Tenho duas metades, mas elas não formam um inteiro.

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