
- Não fala meu nome inteiro, parece que esta brigando comigo. Lembra-me a mãe do papai, dizia meu nome inteiro sempre que podia.
Ele dizia Catariana em voz baixa e pausada, dizia por gostar da forma como a boca mexia. Ca-ta-ri-na. Ela era mulher complicada. Enganava facilmente pelo seu jeitinho ‘suave de ser’. Não tinha freios nem donos.
O pai escolheu Catarina e a mãe apenas apelidou de Cá. A mãe queria suavidade e o pai queria força... E ela tinha os dois.
João era calmo e a idolatrava. Ele estava em segundo plano na história, ele era quem gostava mais ou quem gostava sozinho.
Eles não eram um casal. Ela era a Catarina e ele era um carinha de nome pequeno e fácil de lembrar. Às vezes passava a noite na casa dele, ele era um cara legal pena estar apaixonado e viver repetindo o nome dela. Ele afirmava ser lindo, o melhor nome que já ouvirá. Ela queria ser Cá, mas ele insistia em Catarina. Ela nunca chegou a dormir. O sexo era legal, mas ele não acompanhava o ritmo dela. Ele dormia ela via televisão e tinha inspiração pra desenhos. Ele funcionava com um calmante, um detalhe discreto, mas importante na arte dela. Cá nunca disse isso pra ele e não tinha planos de dizer. A paixão de João era um peso que ela tentava levar. As coisas eram boas, mas ele estragou tudo. Ela sempre afirmou que sentimentos confundem estômagos, fazem mãos tremerem e ela é artista... Precisa de serenidade. Nas vezes que precisava dele ela ligava e o usava. - Entenda o usar da forma que preferir.
Não iria dormir enquanto não acabasse um esboço que começou no inicio da tarde. O esboço de uma paisagem que nunca ficaria pronta. Talvez não dormisse nunca mais. Pensa nele. Não liga. Sabe que a inspiração acabou e que ficar olhando para o papel não vai leva-la a lugar nenhum. Cada sabe seu lugar de fuga.
Escreveu o nome dela numa folha e sentiu-se apaixonado. Tão romântico e latino a espera de sua musa. Tomou cervejas e pensou em trabalho. Pensou no tempo e desejou-a. Catarina. Queria saber escrever, sabia que poderia fazer fortunas se reproduzisse alguém tão perfeito quanto ela. Não mascararia nenhum detalhe, faria uma cópia perfeita e com a mesma boca. Triste mesmo seria descrever os lábios dela... Só quem já teve a sorte de ser acariciado por eles entenderiam tal perfeição. João não escrevia, não desenhava e não falava. Apenas dizia “Catarina” Com toda a devoção do mundo.
Ela não queria ser “Catarina”, queria ser “Cá”. Simples e sem devoção.
Catarina.